Vítima de uma cobra. Curioso que eu era, parei na praça de Rolândia, onde havia uma trupe de circo. Eles convidavam a população para o espetáculo. Como eles, havia Adelaide.
O mestre de cerimônias fez todo um rapapé para prender a atenção da galera durante alguns bons minutos. Entre uma atividade e outra, anunciava que Adelaide seria a grande atração do dia.
Na verdade, Adelaide era uma cobra. Ela ficava guardada num cesto. Num determinado momento da apresentação, o falastrão anunciou que colocaria a cobra no chão. Dotada de poderes mágicos, logo ela identificaria quem era o garoto mais peralta que estava ali assistindo à apresentação.
Posta fora do cesto, Adelaide olha para um lado, olha para o outro. Mostra aquela língua que metia medo, rasteja aqui e ali e pimba: parte em minha direção. Num primeiro momento, comecei a duvidar que aquilo estava ocorrendo.
Mas não era ilusão de ótica. Realmente a cobra partiu em minha direção. Quando me dei conta que eu era o garoto mais peralta que ela farejara, saí em disparada. Montei na bicicleta e pedalei muito para fugir da danada. Para protestar, não fui prestigiar a apresentação do circo.
Na verdade, fiquei com medo mesmo. De todos os animais que existem, a peçonhenta é a que me mete mais medo. Aquele rastejar, por ela ser traiçoeira, sempre fugi delas. Confesso que mesmo quando vou a zoológicos, sinto algo ruim ao vê-las. Parece-me que elas estão sempre pronta para dar um bote, uma picada, colocar a gente em perigo.
Hoje, olhando de longe, imagino que a Adelaide não era uma cobra venenosa. Deve ser uma dessas que as pessoas têm em casa, que algumas mulheres fazem danças sensuais com ela.
Mas na minha memória infantil, ela só me causou medo e eu nunca mais quis saber de cobra e de circo.