Quero falar da autoimagem e a importância do olhar do outro. Entretanto, relembro uns versos, pois na vida, a gente espera um acontecimento.
Marina Lima, na minha tenra juventude, cantou:
“…me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim…”
Dias atrás, durante uma aula na faculdade, a professora pediu o desenho de uma bandeira. Nela deveriam constar seis características. Dentre elas, a autoimagem.
A reflexão fez ressurgir algo do passado.
Eu imaginava ter superado a ausência de meu reconhecimento como sujeito, criança, adolescente, homem.
Recentemente terminei a leitura do livro “Autoestima como hábito”, de Gislene Isquierdo. O tema tem sido recorrente nas minhas sessões de psicoterapia.
A autora (e também o psicólogo) ressalta: não se trata de qualquer olhar. Ele deveria vir das figuras importantes na nossa formação.
Os pais (no caso dos homens, em especial da mãe), professores, figuras de significação e relevância. Ou seja: um elogio da mãe, um parabéns na escola, “você mandou muito bem nesta tarefa”, bonita a sua escrita, esta roupa lhe cai bem.
Contudo, a ausência dessa assertividade pode gerar insegurança. Dar a sensação de não haver lugar no mundo. De falta de encaixe. De ser todo errado. E por mais que você busque isso dentro de si e reconheça os seus méritos, essa lacuna do olhar alheio faz diferença.
Assim, com toda a leveza e descompromisso dos 16 anos, entrei num curso de modelo. Aprendi boas maneiras, mas o desejo real era aprovação. Reconhecimento. “Você é bonito”.
Já terminara o curso e fui pagar a última mensalidade. Porém, chegando lá percebi uma grande movimentação e todos os colegas da turma se preparando para a gravação de um comercial. Não me convidaram.
Todo sem graça, o proprietário me “chamou” para participar de última hora. Naquele momento, não tive dúvidas e aceitei. A captação das imagens seria no outro dia, começando às 5h. Meu pai concordou em me levar de Rolândia à Londrina. Aqui cabe um outro “porém”: no set simulando uma sala de aula, fui colocado na última fila. Percebi a câmera “passeando” por mim.
Claro, criei mil expectativas. O comercial estreou na tevê aberta, com maior destaque na TV Coroados (afiliada da Globo em Londrina). Entretanto, minha aparição se resumiu a dois ou três frames. Ou seja, para quem se imaginara seguindo carreira internacional, foi um mal começo. Finalizando este “episódio”, percebi que a realidade foi meramente protocolar: participar do desfile de formatura. E só.
Todos os silêncios parentais, de amigos, professores, ganharam um reforço que me acompanha até hoje.
Uma sensação de inexistência.
Costumo dizer que posso ser, no máximo, uma paixão à segunda vista. Ao me conhecer, conversar comigo, me dar uma oportunidade para além dos meus cabelos cacheados e olhos azuis, talvez eu tenha uma chance.
Não, nunca parei uma festa. Não, nunca fui o primeiro a ser notado.
Fui o melhor aluno todos os anos até a entrada na universidade.
Nunca ouvi a frase “Edenilson, você é inteligente”. De nenhum professor.
“Mesmo com todas as evidências, você precisa que alguém diga”, questiona o psicólogo.
Em outros tempos eu teria vergonha de assumir. Mas sim, fizeram falta: você é bonito, você é inteligente, você é importante.
Assumir tais fragilidades não preencherá o vazio instalado. Eu espero, na verdade, assimilar de vez essa falta. Admito, porém, que não tem sido nada, nada fácil.
3 Comments
Lição dura.
Você é LINDO!!!! O mais importante é se aceitar, o que acham os outros não tem a menor importância….
Obrigado, Querido.