Pitoresca, essa narrativa só poderia acontecer na minha cidade do coração. Um garoto começou a se travestir e para seduzir a clientela, ficava na avenida vestido de noiva.
Eu o conheci quando ele procurou o grupo de teatro do qual eu fazia parte, a Cia. Andajunto de Teatro. Disse-nos que era muito tímido e gostaria muito de usar a encenação para se “soltar”. O grupo o acolheu com grande generosidade, mas ele acabou vindo a dois ou três ensaios, no máximo.
Qual não foi a nossa surpresa quando, certa madrugada, voltávamos de uma balada qualquer e encontramos uma noiva fazendo ponto na avenida. Era o local onde transitavam os caminhoneiros que passavam por Rolândia.
Pitoresca, aquela mulher vestida de noiva nos deixou curiosos e paramos para conhecê-la. O reconhecimento foi imediato. Gay e com vontade de transformar o próprio corpo, aquele jovem encontrou na prostituição, o único jeito de sobreviver.
Claro que a presença daquela travesti causou furor na conservadora Rolândia. E como acontece na grande maioria desses casos, a família expulsou o garoto de casa.
A prostituição foi a opção que lhe sobrou. Quis o destino, porém, que a vida lhe abrisse oportunidades internacionais. Ele mudou-se para a Itália, país onde as travestis brasileiras sempre ganharam muito dinheiro.
Lá, como um conto de fadas, um romance, um folhetim, conheceu um empresário rico. Muito rico. Eles se apaixonaram e aquele homem mudou-lhe completamente a vida.
Além de oferecer-lhe do bom e do melhor, financiou a cirurgia de mudança de sexo. Rica e poderosa, ela voltou para a pequena Rolândia em cima do salto. Literalmente.
Foi generosa com a família, ajudando-a como pode. Reduziu muito a miséria em que os pais viviam e, para fechar com chave de ouro, foi apresentada na coluna social da Folha de Londrina, o jornal mais importante da região.
Consta que segue feliz.