Mirandópolis era a cidade onde moravam meus tios maternos. Fomos passear lá e eu saí rua afora. Tinha quatro anos e, claro, não consegui voltar pra casa.
Meu pai sempre dizia que visita boa era aquela que não durava mais de três dias. Dentro dessa premissa, fomos então visitar meus tios maternos. Minha tia se chamava Virgínia, mas nós a chamávamos de tia Nega por ela ser a mais morena das irmãs da minha mãe.
Junto com o marido, o tio Roque, eles tinham um bazar e moravam no andar de cima da loja.
Enquanto todos tomavam café, eu desci silenciosamente, passei por entre os brinquedos, peguei um deles e saí rua afora. Pra falar a verdade, nem sabia pronunciar o nome da cidade corretamente.
Caminhando sem rumo, perdi totalmente a noção do tempo e fui andando sem parar. Claro que chegou um momento em que eu me dei conta que precisava voltar. Mas como fazer isso quando se tem quatro anos de idade?
Naquele dia, o anjo da guarda protetor das crianças estava de plantão e olhando só pra mim. Um alfaiate percebeu que eu estava perdido e veio falar comigo.
Perguntou quem eu era e onde estavam os meus pais. Respondi que eu era o Edi, filho da irmã Alice e do irmão João e estávamos na casa da tia Nega.
Creio que ele deve ter arregalado os olhos, mas de qualquer forma, teve uma ideia genial. Levou-me à Rádio Clube de Mirandópolis. Chegando lá, fui recebido como um príncipe. Toda a equipe começou a me paparicar. Eu era uma criança muito falante.
De tempos em tempos, eles me colocavam no ar e eu dizia meu nome, o dos meus pais, da tia Nega e do meu primo Júnior. Ou seja…
Já era quase fim de tarde quando meu primo, afinal, sintonizou a rádio e me ouviu. Foram me buscar e eu estava todo faceiro com o montne de presentes que ganhara. Minha mãe, nervosíssima, nem teve forças para ficar brava.
Eu lembro dessa história com toda essa riqueza de detalhes porque, desde então, ela sempre foi assunto da família.