É foda ser homem nos dias atuais. Isso, porém, não é privilégio da sociedade contemporânea. A história comprova que os homens sempre foram muito exigidos.
O psicanalista Flávio Gikovate, falecido no ano passado, escreveu um livro – Homem, o sexo frágil? – em que narra a “construção social” do relacionamento entre homens e mulheres. Segundo ele, no passado, quando machos e fêmeas eram responsáveis pela própria sobrevivência, havia igualdade entre os sexos.
Houve um dia, porém, que um desses homens propôs que a mulher cuidasse da caverna. Em troca, ele – mais forte fisicamente – traria alimento para ela. Ela aceitou e, desde então, o indivíduo passou a achar que era proprietário não só do corpo, mas, principalmente, do desejo feminino.
Com tempo de sobra na caverna – ou casa, se preferir – a mulher passou a refletir sobre sua condição. E quando vieram os filhos e a tal da jornada dupla, ela teve que se virar. Emocionalmente amadureceu a duras penas.
Decidi gravar este vídeo a propósito da denúncia de assédio sexual envolvendo uma figurinista da Rede Globo e o ator José Mayer, recém saído da novela A Lei do Amor. Na obra, ele interpretava um machista incorrigível, que tratava as mulheres como seres de segunda classe.
Ficção misturou-se com a realidade, mas a profissional das roupas e acessórios não aceitou a “invasão” do galã garanhão. O caso ganhou repercussão a ponto da emissora dedicar minutos preciosos do telejornal mais visto do Brasil, o Jornal Nacional, para tratar do tema.
Em dois vídeos, quero levantar pontos para uma discussão mais profunda sobre o tema. O machismo, sempre atrelado à hipocrisia, está enraizado na nossa cultura. E o homem – sem defesa alguma de qualquer ato abusivo – acaba sempre se vendo numa encruzilhada. Para manter a fama de garanhão, assedia. Se ocorre o contrário, por exemplo, ele pode ser chamado de “veado”.
Não é fácil ter sangue frio para não cair nas armadilhas. E elas são muitas.