Vidas medíocres. Este tem sido um assunto recorrente nas diversas conversas que tenho com meus amigos. Todo mundo tem reclamado muito que as coisas estão difíceis, que os dias passam voando, que as pessoas cada vez se importam menos que as outras.
Isso me fez lembrar um poema da Marina Colassanti, publicado em 1972. Veja que beleza é Eu sei, mas não devia.
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia…
A íntegra do poema, você pode ler aqui. Não é curioso que um texto de mais de 40 anos seja ainda tão atualizado. Nesses tempos de vida virtual e relações líquidas, mudar a nossa vida e, principalmente, a nossa rotina, é um grande desafio.
Não adianta esperar muito do outro. Cada um de nós só pode agir por si para ter uma vida melhor. Sendo feliz, adquirindo a solitude, será muito mais tranquilo conviver. E fazer da vida algo mais interessante.