O presente daquele natal foi uma caixa de isopor. Minha mãe me disse que eu deveria começar a vender sorvetes para ter um dinheiro só meu e não precisar dela para tudo.
Dentro daquele presente havia algo maior que qualquer outra coisa que eu pudesse ganhar: aprendizado. O maior presente que podemos guardar de quem amamos é conservar boas lembranças.
Vender sorvetes me trouxe muitos aprendizados. O primeiro deles era me empenhar nas vendas. Eu ganhava por comissão pela quantidade de picolés comercializados. Também aprendi a administrar o tempo. Precisava ou pegar poucas unidades ou agilizar as vendas. O verão em Rolândia costuma ser muito quente. Se o sorvete derretesse, eu perderia a venda e, por consequência, a comissão.
Tive que saber me defender. Certa ocasião, um grupo de garotos maiores do que eu me cercou. Queriam tomar os picolés que estavam dentro da caixa.
Ou seja: a essência de tudo aquilo que eu sou foi minha mãe quem me ensinou.
Este foi o primeiro dia das Mães que eu passei longe da minha. Em dezembro de 2015 ela morreu, vítima de uma embolia pulmonar. Naquele dia, um dos amigos que me ligaram, me disse que as mães não deveriam morrer nunca.
Num primeiro momento eu fiquei atordoado, muito deprimido. Mas não demorou muito para eu perceber que, na verdade, a minha mãe não vai morrer nunca porque ela vive dentro de mim.
Claro que a vida ganha um outro significado quando você perde a mãe. Todos os compromissos, todas as promessas, todo o respeito e consideração que você tinha por ela, agora não fazem mais sentido algum. A gente ganha uma liberdade assustadora. No meu caso, trouxe um pouco de medo.
De qualquer forma, não há o que fazer. Este é ciclo natural da vida. Os filhos devem enterrar os pais. O que me regozija, porém, é saber que ela existirá para sempre dentro de mim. E isso é muito bom.