Melodrama bom é aquele que usa e abusa de todos os clichês de um bom folhetim. “Tempo de Amar”, novela de Alcides Nogueira que termina esta semana, é entretenimento de excelência.
Se no início, a novela ganhara o apelido de Tempo de Sofrer, com o tempo, a competência narrativa do autor se mostrou muito eficiente.
Aos poucos, ele foi entregando ao público uma história simples, muito bem amarrada e com texto que não insulta a inteligência do telespectador.
A direção artística coube a Jayme Monjardim, mestre em belos enquadramentos. As técnicas colaboraram decisivamente para que a gente sentisse que estava folheando um bom livro a cada capítulo.
A Rede Globo apostou em dois novos rostos, Vitória Estrada e Bruno Cabrerizo, como protagonistas e eles fizeram bonito na estreia. Maria Vitória fez uma heroína do século passado, mas sem fragilidades e salamaleques que ninguém suporta. Foi uma guerreira do princípio ao fim.
Separados pelos ardis dos vilões, Maria Vitória encontrou um novo amor nos braços do amigo, Vicente, competente composição de Bruno Ferrari.
Tony Ramos, irrepreensível como o pai austero e conservador. Incrível como ele consegue dar nuances, silêncios, pausas que convencem todo mundo.
Marisa Orth, finalmente, não fez papel de uma mulher abobalhada e burra, nada de histrionismo. Assim como Nelson de Feitas, esbanjou talento compondo uma cantora sóbria, sofrida, sem resvalar em momento algum na caricatura.
Os vilões de Andreia Horta, Letícia Sabatella e Jayme Matarazzo cumpriram o papel de infernizar e movimentar o principal núcleo da novela.
Mesmo se passando lá pelos anos 20 do século passado, Alcides Nogueira tratou dois temas nebulosos com muita responsabilidade.
Assédio e racismo foram retratados de maneira a fazer todos refletirem o quanto estamos atrasados nesses dois assuntos.
Muita gente reclama que novela é tudo igual. Não duvido disso, mas defendo que, em mãos competentes, é mais do mesmo com muito sabor. Tempo de Amar deixará saudades.