Dor cada um tem a sua, ela não pode ser avaliada. Dor apenas se respeita. Dor precisa ser tratada. Dor precisa ser acolhida.
A minissérie Justiça também fala da dor. Mais especificamente da incapacidade de lidar com ela. A personagem da Marjorie Estiano, uma bailarina, fica tetraplégica e pede que o marido, vivido pelo Cauã Reymond, mate-a. A eutanásia é considerada crime no Brasil e enquadrada como um homicídio. Há uma cena muito tocante na minissérie, quando a bailarina grava um vídeo, na vã tentativa de livrar o marido da cadeia, dizendo que admira muito as pessoas que conseguem conviver com a tetraplegia.
Discutir um tema como este é fundamental. Cada indivíduo tem autonomia para decidir o que é melhor para si e responder pelas consequências disso. As pessoas têm o direito de escolher como vão lidar com a própria dor. Não importa se é uma no dente, na cabeça, no braço, em qualquer parte do corpo. Ou ainda no coração, uma na alma. Ela é incomparável. Indiscutível. Intransferível.
A depressão, por exemplo, pode ser traduzida como uma noite escura da alma. Algumas pessoas conseguem lidar com ela. Outras precisam de tempo. Outras requerem ajuda médica. Terapêutica. Infelizmente, algumas sucumbem.
Uma pessoa que usa dentadura pode sofrer pela perda dos dentes naturais e se incomodar com isso. O homem que perdeu os cabelos não tem que, necessariamente, achar isso charmoso. Um obeso pode recorrer às cirurgias bariátrica e plástica para ficar bem consigo mesmo. Homens não avaliam o que significa dar à luz. Mulheres não sabem o que é uma bolada nos testículos. A dor é singular.
Uma pessoa com dores precisa de ajuda. De atenção. De parceria. De acolhimento. De companheirismo. De tratamento. Para que além das próprias forças, a pessoa com dolorida consiga retomar a própria vida. Ou dar a ela, o destino que julgar mais adequado.