Corrupto sou eu, você, todos nós. Apesar das inúmeras reclamações e tentativas de transferir ao outro este título, a realidade é que temos a má índole incrustada dentro de nós. A despeito de toda gritaria, das muitas e muitas manifestações, dos protestos, às vezes infantilóides, o fato concreto é que parece que estamos todos à espera de uma oportunidade de dar um mau passo.
A quem diga que desde o descobrimento do Brasil estamos envoltos em ilicitudes. Dinheiro sempre exerceu influência, abriu portas, encurtou caminhos. A despeito de estarmos ingenuamente indignados, nosso cotidiano é permeado de pequenas “falhas de caráter”. Ou como diz um amigo meu, “nossa moral é muito elástica”.
Isso significa que ela pode ir até onde atender os nossos interesses. Até mesmo as ações mais condenáveis podem ganhar um véu de complacência se, de alguma forma, eu receber algum tipo de benefício, mesmo que seja algo absurdamente banal. Primeiro eu e os meus. Depois eu e os meus e, quem sabe, depois, você e os seus.
Semana passada fomos informados de mais uma ação da Polícia Federal, desta vez envolvendo o seto alimentício. As principais, e maiores, empresas do setor estão envolvidos em diversas denúncias. Elas vão desde o pagamento de propina para que a fiscalização não fosse realizada, até a mistura de produtos não recomendados ou mesmo vencidos junto com itens de boa qualidade.
Para além da indignação da sociedade, o que restou mais forte foi a suspensão da importação da carne brasileira. E nestes tempos de uma crise atrás da outra, foi o agronegócio que colaborou para que o desastre econômico não fosse ainda maior. As consequências do que foi revelado nas investigações terão repercussões graves e ainda mais significativas.
Num momento em que precisaríamos de impulso na economia, retrocedemos várias casas, novamente por conta da corrupção. E não adianta você colocar a culpa no outro. Se o basta não partir de você, dificilmente alguém será convencido a agir em prol do bem comum.