Tirar sarro de um paciente que disse “peleumonia” ao invés de pneumonia. Pronto: estava feita a receita do inquérito, “prisão” e julgamento digital. O último “condenado” pelas redes sociais é o jovem médico Guilherme Capel Pasqua. Ele teve a péssima ideia de fazer uma brincadeira de extremo mau gosto sobre um paciente e, pior, postou na rede. Como tudo na internet “voa” à velocidade da luz, ele foi julgado e condenado. Perdeu, inclusive, o emprego, onde era plantonista.
Percebida a escorregada, pediu desculpas, visitou o paciente, propôs-se a trabalhar voluntariamente para minimizar o mal estar causado. De nada adiantou. Ele continua sendo vítima de ataques virulentos, como se nenhum de nós pudéssemos falhar. Dias sombrios os atuais.
É fato: os idiotas sempre existiram. A internet apenas deu vozes a eles. O que me espantou neste caso foi a virulência que o caso provocou.
Uma sindicância aberta pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, o Cremesp, vai apurar a conduta do médico. O paciente é um homem simples, de pouca escolaridade. Escreveu “peleumonia” por falar assim. Disse o médico, que mandou a fotografia com os escritos do adoentado apenas para um grupo de amigos. Alguém vazou a “anotação”. Formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), o médico pediu desculpas e afirmou que não teve a intenção de ofender.
As críticas foram ainda direcionadas a outras duas funcionárias do hospital que, assim como o médico, debocharam da forma como os pacientes costumam falar na unidade. Uma das funcionárias postou: “Tira minha pressão? Porque eu tenho tiroide”.
Ele e outros funcionários envolvidos no caso foram afastados. Mas o linchamento digital não teve medida.
Não há dúvida que o recém formado agiu mal. Mas também não comentou crime que mereça tanta virulência. Hoje foi ele. Amanhã pode ser você. É sempre bom não se esquecer disso.