João deveria ser o meu nome. A ideia era que eu tivesse um nome bíblico, como meu pai, avôs e todos os demais irmãos. Filho de evangélicos, sempre preferi nomes simples. Mas no trajeto do sítio ao Cartório, virei Gilberto e, finalmente, Edenilson.
Como todo bom brasileiro, não gosto que errem meu nome. Infelizmente, isso é uma constância. Chamam-me de Ednilson, Adenilson, Adilson, Edmilson, Idenilson, Edilson. Sempre fico incomodado. Vasculhando documentos antigos da minha família, vi que este problema sempre existiu. Há papéis em que se encontra Edenirce – isso mesmo – Denirce – Santo Deus – e por aí vai.
Nem meu pai, nem minha mãe nunca souberam explicar a razão da mudança. Quando comecei a trabalhar no jornalismo diário, rolavam dois erros que me deixavam puto. Eu trabalhava no Jornal de Londrina. Falava com secretárias de entrevistados e elas anunciavam: o Edmilson, da Folha, está aqui. Nunca fiz cara de bons amigos.
Na formatura da oitava série, preparei uma vingança contra os meus pais. Soube à boca pequena que fora escolhido o melhor aluno da cidade e receberia uma homenagem. Avisei professores, amigos, diretor da Escola Estadual Professor Francisco Villanueva (hoje Colégio), que se errassem o meu nome, eu não receberia o troféu.
Chega a cerimônia, o mestre chama o terceiro lugar, o segundo e, na hora de anunciar o vitorioso ele tasca sem titubear: E D I N E L S O N. Fiquei ali parado, não mexi um músculo, não me levantei, não recebi o prêmio.
Olhei para minha mãe com olhar vitorioso. Ela chorava copiosamente. Até hoje o prefeito não sabe quem foi o melhor aluno da cidade naquele ano. Claro que é uma bobagem de adolescente. Mas eu precisava tirar aquele peso das costas. Inclusive, acho que as pessoas deveriam ter o direito de mudar de nome de forma menos burocrática.
Agora é isso e não tem mais o que fazer. Sou Edenilson e pronto.