Balela: o amor não tem nada de missionário. Ele não salvará ninguém de si mesmo e não basta por si só.
Este vídeo foi gravado porque uma amiga começou a namorar um rapaz e descobriu que ele é usuário de drogas. Sempre acho muito curioso que algumas pessoas acham que o amor é capaz de tudo. Infelizmente não é. Lembro de uma cena do filme Closer – Perto Demais, em que a personagem da Natalie Portman questionava o personagem do Jude Law porque o amor não bastava.
Talvez porque sejamos muito vulneráveis. E para além do romantismo, existe uma vida prática que requer coragem e auto confiança. E sem a ilusão de que podemos mudar alguém.
Quando o assunto envolve drogas é melhor ficar com o corpo inteiro atrás. Amor missionário é incapaz de curar alguém. São raríssimos os casos em que a pessoa de fato consegue se livrar do vício. E como sempre lembra a minha terapeuta, amor pode ser qualquer coisa, menos sofrimento.
O texto que usei na abertura do vídeo é o encerramento da peça De braços abertos, escrita por Maria Adelaide Amaral nos anos 80. A fala é da personagem vivida pela Irene Ravache. Na trama, um ex-casal de amantes se reencontra para falar sobre o passado. A conclusão da mulher era que só o amor seria capaz de salvá-la.
Na verdade, muita coisa mudou neste intervalo de tempo. O principal é que esta visão romântica se modificou. Não se pode amar ninguém mais do que a si mesmo. E isso não tem nada de egoísmo. A maturidade nos traz um pouco de razão, de praticidade. Às vezes é fundamental que pensemos em nós mesmos. Só cuidando muito bem de si, será possível acolher o outro.
Quando se está consigo, é impossível ser abandonado. Daí sim talvez apenas o amor seja capaz de nos salvar. Do que for.