A segunda-feira nunca me incomodou. Gosto de tudo que começa no primeiro dia útil da semana, não me aborrece acordar cedo, nem mesmo em dias frios. Anteontem o despertador tocou às 5h45 como de hábito e às 6h10 eu já estava na academia. Dez minutos na esteira, alongamento, bom dia aqui e acolá – geralmente aos mais idosos – e início a série de musculação. No quarto exercício passei mal. A pressão caiu quando eu levantava dois alteres de doze quilos cada um. O objetivo era trabalhar os ombros, mas ficou só na intenção. Faltou força na segunda-feira.
Não era nada sério, ninguém percebeu o mal estar. Dei um tempo, tomei água e resolvi embora. Pra falar bem a verdade, desejei me teletransportar a dirigir pelas ruas ainda vazia da capital. Cheguei em casa, fui para debaixo da coberta, senti falta da minha mãe. Comecei a assistir ao último episódio do Brothers & Sisters. Nele, a Kitty sofre um aborto espontâneo, faz a curetagem e volta pra casa. A mãe vai até lá, pergunta se ela precisa de algo e Kitty responde que precisa apenas viver aquele momento e ficar um pouco sozinha. A mãe concorda, vira-se pra ir embora, Kitty a chama, pede que ela fique ali um pouco, a mãe volta, acolhe a filha no colo e encerra-se o episódio. Chorei muito com a cena. Chorei muito por mim. Chorei pela segunda-feira.
Pouco mais tarde, já no trabalho, comentei com a Simone e a Andrea. Disse-lhes que sentia falta da minha mãe, meus olhos lacrimejaram novamente. O dia seguiu sem muitas delongas, voltei à academia à noite para terminar a série, o professor de spinning percebera que eu fora embora, mas sequer imaginou que eu passara mal. Decidi ir ao cinema, aproveitar a promoção que valoriza o cinema nacional e assisti Era uma vez…, do Breno Silveira, por módicos dois reais. Também me emocionei muito no filme, pensei porque algumas coisas simplesmente estão fadadas a dar errado, porque nossa insistência em querer mudar a natureza das coisas. Chorei outra vez, confesso.
Despedi-me do André ao telefone e fui dormir. Exausto, caí no sono muito rapidamente. Sentia frio, embora a temperatura não estive tão baixa. Lá pelas tantas, começo a sonhar. Estava numa favela tomada por traficantes, precisava fugir, sentia medo. Aparece um táxi do nada, entro e olho para o motorista. Era o meu pai. Ele olhou, sorriu pra mim e disse… “agora está tudo bem”.
Acordei com calor, uma paz imensa no coração. Fui ao banheiro, voltei para a cama e dormi.