Top Model, eu? Contaram essa bobagem pra mim, devido a minha estatura e a magreza. Como eu tenho um pouco de presunção, sonhei logo com as passarelas internacionais. E fui em busca desse sonho.
A primeira ideia foi me matricular num curso para modelos em Londrina. Fiquei sabendo da IPS, inscrevi-me. Todo sábado, pegava o ônibus em Rolândia, passava o dia em Londrina aprendendo os segredos da passarela, da fotografia, das boas maneiras. Tempo e dinheiro investidos numa grande fantasia.
Para ajudar, tive muitas espinhas na adolescência, de modo que meu rosto trazia várias marcas. Mas nada me fazia enxergar a realidade. Gastei dinheiro com o curso. Depois fiz um book, claro. E isso absolutamente não me levou a lugar nenhum.
A melhor parte deste investimento foram as aulas de etiqueta e boas maneiras. Acho que consegui deixar um pouco da cafonice e do dos maus modos que trazia comigo. Não era falta de educação. Era refinamento, entende? Para um filho de agricultores, morador da periferia de Rolândia, havia muito a ser descoberto.
Fiz a prova do Sindicato, consegui o registro profissional como modelo. Mas em toda minha vida, participei apenas de dois felizes. Sem ganhar um centavo sequer. O primeiro foi o desfile de formatura. O segundo, um concurso para escolher o “Garoto e Garota Rolândia” mil e lá vai pedrada.
Não gosto da ideia de abandonar sonhos. Acho importante a gente lutar por aquilo que acredita. Porém, também acho que precisamos ter noção de onde a gente está se metendo.
Um bom sinal de maturidade é quando a gente olha para determinada coisa ou situação e percebe claramente: isso não é para mim.
Não é vergonha, não é veio. Trata-se de bom senso. De conexão com a realidade, com a percepção de como as coisas funcionam.