Brasileiro cordial é um sinônimo espalhado país afora, mas eu acho que isso só nos faz compactuar com muita coisa errada e tolerar o erro alheio.
Muita gente reclama, e com razão, dos desmandos que estão sendo descobertos dia após dia em terras tupiniquins. Dizem, sem exagero, que tudo começou lá em 1.500 com a trupe que aportou nessas paragens trazidas por Pedro Álvares Cabral.
O nosso grande problema é achar que só o outro está errado. Ou ficar indignado quando a gente não recebe quaisquer tipos de benefícios.
Por trás desta nossa amabilidade há também a compactuação com vantagens indevidas. Para mim, só isso explica a reeleição de candidatos envolvidos em denúncias de corrupção e mau uso do dinheiro público. Nelson Rodrigues, um dos maiores expoentes da dramaturgia e literatura nacionais, brincava que o brasileiro só era solidária no câncer.
Para além da doença, o sentido figurado está totalmente em “harmonia” com a famosa frase daquele que retratou como ninguém a vida como ela é.
Mais de dez anos atrás, no auge do escândalo do “mensalão”, o Ibope fez uma pesquisa para saber até onde ia a ética do brasileiro.
Surpreendentes 73% dos entrevistados responderam que sim, cometeriam irregularidades em prol de si mesmos, caso tivessem uma oportunidade.
Diante disso, não faz muito sentido reclamar do global, quando o local é uma sucessão de malfeitos. Antes de cobrar os poderes municipais, estaduais e federais, considero fundamental uma auto análise das mais críticas.
Se eu, sozinho, conseguir fazer algo bem feito apenas para uma pessoa, imagina o significado disso em nível nacional?
Mais do que cordiais, devemos primar pela ética, pela coerência, pelo respeito. Seguir aquela premissa básica de não fazer ao outro aquilo que não deseja para si.
Talvez seja o primeiro grande passo para termos um Brasil melhor.